APRESENTAÇÃO

Mais de 95% da população mundial vive em menos de 10% da área terrestre do planeta, principalmente em cidades e vilas. Estima-se que até 2050, a população urbana deverá ser composta por 6,29 bilhões de pessoas, equivalendo a 69% do total da população mundial (ZHAO et al, 2013). Uma média de 200 milhões de pessoas por ano, no mundo, foi afetada por desastres nas últimas duas décadas (UN/ISDR, 2007).

Os desastres naturais têm ocorrido com mais frequência e com um forte poder de destruição. Por se tratar de processos não-determinísticos, os desastres caracterizam-se pela imprevisibilidade e pela incerteza de suas ocorrências, exigindo um tipo de análise e tratamento de natureza complexa, que considere suas propriedades não determinísticas e emergentes.

Os sistemas públicos de gestão de desastres naturais, dada a característica complexa destes tipos de desastres, têm tido dificuldade de prever, prevenir e dar respostas a estes fenômenos de forma resiliente. Esta realidade exige, portanto, que os profissionais dos sistemas de emergência e a população precisam estar aptos para interagir, realizar adaptações e prover a resiliência necessária para tratar destes acontecimentos. 

Por isso, cidades de todo o mundo estão dando maior importância ao planejamento, preparação e reação ao crescente número de desastres naturais, causados pela mudança global do clima. A ONU, inclusive, lançou em 2010 uma Campanha Mundial denominada “Construindo Cidades Resilientes: minha cidade está se preparando” (UNISDR, 2010). Em 2011, a ONU publicou “Como Construir Cidades Mais Resilientes: um guia para gestores públicos locais” (UNISDR, 2011), cujo objetivo é “aumentar a conscientização a respeito da redução de riscos urbanos e encorajar governos a investir em atividades de redução de desastres e criar uma infraestrutura mais resiliente nas cidades” (ONU, 2010).

Em uma cidade resiliente as autoridades locais e a população compreendem os seus riscos e desenvolvem uma base de informação local compartilhada sobre riscos, perigos e perdas em desastres, incluindo quem está exposto e quem está vulnerável. Também, as pessoas estão habilitadas a participar dos processos de decisão e planejamento da cidade, juntamente com as autoridades locais, e a valorizar o conhecimento local, suas próprias capacidades e os recursos que possuem.

Um estudo realizado em 2010 pela OCDE estima que, nas grandes cidades costeiras, cerca de 150 milhões de pessoas (aproximadamente quatro vezes a população atual de 40 milhões), para se proteger, vai ter que depender, até 2070, das defesas contra inundações (JAPAN METEOROLOGICAL AGENCY).

O “II (Sem)Desastres - II Seminário Multidisciplinar sobre Desastres” é uma continuidade das ações de pesquisa e extensão, sobre a temática dos desastres, desenvolvidas pelos Departamentos de Engenharia de Produção, de Psicologia, de Geografia, de Enfermagem e de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Este evento é uma iniciativa do Projeto de Extensão e Pesquisa “Mãe Luíza (Sem)Desastres”, que envolve os seguintes grupos de pesquisas da UFRN: GREPE-Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia, GPSICODESASTRE-Grupo de Psicologia dos Desastres, GEORISCO-Grupo de Pesquisa em Dinâmicas Ambientais, Risco e Ordenamento, GPNaPBC-Grupo de Pesquisa Neurociências Aplicadas, Processos Básicos e Cronobiologia.

O IIº (Sem)Desastres se insere num conjunto de estratégias e ações dos referidos grupos de pesquisa, no sentido de contribuir com o processo de desenvolvimento científico, a resiliência dos órgãos públicos e a resiliência comunitária, buscando, cada vez mais, a melhoria da resiliência do sistema global de gestão dos riscos de desastres em nosso estado.

A cidade de Natal carece de um Plano de Contingência efetivo para o enfrentamento dos desastres naturais nas suas áreas vulneráveis. As últimas chuvas de junho de 2014, que atingiram o Bairro de Mãe Luíza, são uma demonstração inequívoca da fragilidade de nosso sistema de gestão de riscos de desastres, em termos de falta de articulação e coordenação interinstitucional dos órgãos públicos e de falta de sinergia destes órgãos com a comunidade afetada, fragilizando as ações cooperativas e comprometendo a resiliência do sistema de gestão de riscos de desastres.

Dentre as cinco prioridades de ação definidas pela Conferência Mundial de Redução de Desastres (World Conference on Disaster Reduction) e apontadas pelo Protocolo de Hyogo, estão a de “utilizar o conhecimento, a inovação e a educação para a construção de uma cultura de segurança e resiliência em todos os níveis” e a de “reforçar a preparação de desastres para uma resposta eficazem todos os níveis” (UN/ISDR, 2007).

O objetivo central do II (Sem)Desastres é  discutir a atuação, eficácia e fragilidades dos órgãos públicos e da comunidade afetada pelos desastres, no sentido de contribuir para o fortalecimento da resiliência dos órgãos de Proteção e Defesa Civil da cidade de Natal. 

O II (Sem)Desastres terá como foco o desastre natural - caracterizado pelas fortes chuvas, deslizamentos de terra e alagamentos - ocorrido em junho de 2014, no bairro de Mãe Luíza, que causou danos humanos e materiais a diversas famílias, incluindo crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos.

A ideia é, no primeiro dia do evento, aproveitar os registros da recente experiência acumulada pelos diversos atores sociais envolvidos neste desastre, mediante a criação de espaços de diálogos, trocas de experiências e reflexões multidisciplinares, interinstitucionais, entre os poderes públicos e comunidades afetadas e entre os diferentes atores sociais envolvidos no cenário do desastre. Pretende-se, ainda, no segundo dia, mediante a realização de uma oficina, estimular e apoiar a elaboração participativa do Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil para a cidade de Natal, incluindo os exercícios simulados, tomando-se como experiência-piloto o Bairro de Mãe Luíza.

A Coordenação do IIº (Sem)Desastres compreende que o nível de resiliência desejado para o sistema de gestão de riscos de desastres só será atingido mediante uma gestão colaborativa, envolvendo os órgãos públicos e seus agentes e a participação direta da comunidade, liderada pelos Núcleos Comunitários de Defesa Civil-NUDECs. Por isso, são convidados a participar deste evento a comunidade de Mãe Luíza, os agentes dos órgãos de proteção e defesa civil municipal e estadual, da SEMTAS, da SEMOPI, da SEHARPE, da SEMURB, da Secretaria de Saúde de Natal, da SEJUC, da CAERN, da COSERN, da Cruz Vermelha, a Procuradoria de Justiça do Meio Ambiente, a OAB, a ONU, estudantes, professores e pesquisadores envolvidos com o tema. 

Desejamos a todos um excelente Seminário!

Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho – GREPE/Dep. de Engenharia de Produção.
Prof. Dr. Pitágoras José Bindé – GPSICODESASTRE/Dep. de Psicologia.
Profa. Dra. Katie Almondes – Dep. de Psicologia.
Prof. Dr. Fábio Fonseca Figueiredo – Dep. de Políticas Públicas.
Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida – GEORISCO/Dep. de Geografia

Coordenadores do IIº (Sem)Desastres
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